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Alexandre de Freitas, artista gráfico, ecologista e fotógrafo. Cozinheiro e jardineiro às vezes. Este blog é um depósito de informações e materiais sobre arte e ecologia. O título do blog é inspirado em um lindo livro da filósofa Elizabet Sathouris - "Gaia, do Caos ao Cosmo".

28/11/2008

Cuca de Frutas - Uma Receita Tradicional da Cultura Camponesa

O processo de ocupação do Sul do Brasil foi marcado pela influência cultural de diversos povos que, deixaram suas marcas na paisagem dos campos, vales e serras do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Além da arquitetura, estrutura social e econômica; a gastronomia camponesa tornou-se uma marca de quem visita as cidades do interior. Mais do que satisfazer o corpo estas receitas estão carregadas de significados culturais que mostram como os primeiros colonos alemães, italianos, poloneses, e judeus venceram as dificuldades locais preservando a sua identidade através da sua comida.

Todos estes povos trouxeram da Europa a tradição dos pães doces e salgados, à sua moda cada um deles possui uma maneira de preparar a cuca de frutas, um pão doce delicioso, consumido na maioria dos lares camponeses, desde os mais ricos até os mais humildes. Aparentada do stollen e do panetone, a cuca nada mais é do que um pão doce feito com massa mole e batida, onde são acrescentadas frutas secas ou frescas, no meio ou sobre a massa; e, para finalizar uma cobertura de açúcar e manteiga, prosaicamente chamada farofa doce. O nome cuca nada mais é do que um abrasileiramento da palavra alemã "kuchen", que quer dizer bolo ou pão doce. Em uma viagem pelo interior gaúcho é possível detectar pequenas diferenças entre as cucas dos alemães, italianos, poloneses e judeus. Vale uma viagem em busca desta diversidade. Hoje em qualquer padaria sulina é possível encontrar as cucas, difícil é decidir que sabor levar para casa.

O que vamos passar para você é uma receita simples, adaptada para o uso da farinha integral e do açúcar mascavo, mas sem perder a originalidade das cucas feitas pela "vó", "oma" ou "nona", como você preferir! Para duas cucas de tamanho médio você vai precisar:

Para a massa:

  • 3 ovos caipiras inteiros - senão tiver o caipira dá para usar o de "fábrica" mesmo, mas o resultado é bem diferente.
  • 2 colheres de sopa de manteiga, bem cheias.
  • 1 xícara bem cheia de açúcar mascavo. Uma dica: Quando usamos o açúcar mascavo sempre devemos apertá-lo bem dentro do recipiente medida, isto nos dá uma equivalência de doçura com o açúcar cristal. Assim devemos fazer quase um bloco com o açúcar mascavo.
  • 2 tabletes de fermento biológico.
  • 1 xícara de leite morno.
  • +- 250 g de farinha branca.
  • +- 250 g de farinha integral.
  • 1 pitada de sal.
  • talvez uma pitada de noz moscada, uma colher de raspa de limão e/ou outros condimentos para bolo.
  • 1 ou 2 xícaras de frutas secas variadas, nozes, castanhas ou frutas frescas bem drenadas.
Para a farofa doce:
  • 1 xícara de açúcar cristal.
  • 2 colheres de manteiga.
  • 1/2 xícara de farinha de trigo branca.
  • 1 colher de sopa de canela em pó.
Como preparar fermento:

Aqueça o leite em uma caneca de ágata, ou vidro até ficar um pouco mais que morno, nossas avós dizem que ele deve estar "espertinho", isto significa uma temperatura entre 38 e 41 graus celsius. Adicione uma colher de sopa de açúcar e mais uma ou duas de farinha de trigo. Nesta mistura dissolva os dois tabletes de fermento e ponha para descansar por uns quinze minutos. Neste tempo o fermento deve reagir e formar uma espuma muito bonita. Reserve em um local sem vento.

Para preparar a massa:

Em uma bacia de ágata, plástico ou aço inox misture o açúcar com a manteiga, quando a mistura ficar com uma consistência cremosa adicione os ovos, e bata bem (para isso é legal usar uma boa e grande colher de pau ou uma espátula de aço inox) depois que a mistura estiver com uma consistência espumante adicione a mistura do fermento e misture devagar. Ponha o sal e os condimentos de sua preferência e comece a adicionar a farinha integral misturada com a branca.

A medida que você vai adicionando a farinha, vá observando o ponto da massa ela é mais espessa que a de bolo e menos que a do pão (veja informativo de junho 2001). Na verdade, o ponto da massa de cuca é o grande segredo desta receita. Ela deve ficar uma massa grudenta, porém com uma consistência tal que quando batemos com a mão ou com a colher de pau ela produz um ruído grave tipo flofff, flofff, flofff. Quando batemos esta massa a nossa mão deve ficar bem lambuzada, mas a massa não deve escorrer!

Bem, bater a massa de cuca é fundamental. Devemos seguir por uns dez minutos produzindo este característico barulho flofff, flofff... Até a massa ficar bem elástica. Use a sua intuição ela vale muito nestas horas, se sua avó estiver por perto vale uma consulta rápida. A quantidade de farinha pode variar ligeiramente em função do ponto da massa.

Deixe esta massa descansar coberta por um pano de prato ou uma toalha, limpíssimos é claro, por uma três horas. Nem é necessário descrever o que acontece agora. A sua massa deve dobrar de volume. Então é hora de bater novamente e adicionar as frutas e as castanhas e nozes. Nós costumamos colocar umas três colheres de sopa de semente de linhaça. Segundo a nutróloga Clara Brandão esta sementinha é um poderoso anti-oxidante.

Divida a massa em duas partes e coloque em duas forma para pão, bem untadas com manteiga ou óleo vegetal, deixe descansar por mais uma meia hora; tempo mais que suficiente para preparar a farofa doce que vai cobrir a cuca de frutas.

Como preparar a farofa doce:

Misture a manteiga com o açúcar a ponto de formar uma bola.

Esfarele tudo misturando a farinha aos poucos.

Misture a canela em pó.

Esta farofa deve ficar grumosa e fofa.

Dá para adicionar um pouco de baunilha nesta farofa, mas cuidado! Uma baunilha de baixa qualidade pode deixar sua cuca de frutas com gosto de comida industrial.

Depois de crescidas nas formas de pão as cucas devem ser pinceladas com gema de ovo e receber a cobertura de açúcar (a farofa doce) e ir ao forno pré aquecido por mais ou menos trinta e cinco minutos em forno médio alto, até a cobertura ficar bem dourada. Para verificar se ela está bem assada use um palitinho de churrasquinho para verificar se a massa está assada (se não tiver um desses, um palito de fósforo bem limpo cumpre a função). É bem fácil, introduza o palito na massa e, se ele sair mais ou menos seco, é sinal que a massa está bem assada.
Não asse a cuca demais pois ela fica seca em algumas horas, e não espere que a sua primeira cuca de frutas fique um espetáculo. Para estas coisa a prática faz diferença.


Alexandre de Freitas

27/11/2008

Como manter suas geléias e compotas fora da geladeira por até um ano.

A primeira observação que devemos fazer é que o maior inimigo dos microorganismos é o calor e é através dele que conseguimos manter nossos produtos intactos por muito tempo sem a necessidade de aditivos artificiais que em muitos casos são prejudiciais à nossa saúde. No Rincão Gaia costumamos produzir compotas, geléias e molhos para nosso uso interno. E para mantê-los fora da geladeira por muitos meses usamos a técnica da pasteurização. Esta técnica de pasteurização de conservas doces é fácil, porém, um pouco trabalhosa. De qualquer forma sempre vale à pena conservar alimentos a um baixo custo energético.

O primeiro passo é conseguir uma boa receita de geléia ou compota (fique ligado em nossas dicas e receitas), todas elas são feitas através do cozimento de frutas inteiras ou amassadas, com mais ou menos açúcar e condimentos. Antes de preparar seu doce reserve a quantidade necessária de vidros muito bem limpos e secos e as respectivas tampas de rosca, que devem ser sempre de metal e devem possuir uma borracha vedante na face interna. O ideal é comprar tampas novas, pois a integridade das tampas é que vai garantir a vedação do produto e o êxito no processo. Pois bem, quando estiver faltando mais ou menos 45 minutos para a sua compota ou geléia ficar pronta coloque os vidros vazios, limpos e secos no forno e deixe em temperatura alta por 35 minutos; desligue o forno e espere 10 minutos. Neste tempo o seu doce deve estar pronto e as tampas muito bem fervidas por pelo menos 10 minutos.

Com os vidros aquecidos, as tampas fervidas e o doce ainda muito quente, vista um avental de corpo inteiro e luvas de proteção contra o calor e teste o primeiro recipiente. Isto deve ser feito sobre uma tábua de madeira seca. Ao despejar uma pequena quantidade do doce quente dentro do vidro, também quente, você saberá se a temperatura está adequada. Se o vidro rachar no fundo (o vidro nunca explode mas pode escorrer doce quente pelas rachaduras, por isso tome cuidado) espere mais uns cinco minutos. O processo em si consiste em preencher os vidros até proximo à boca e fechar com a tampa de metal emborrachada (fervida), e deixar esfriar lentamente dentro de uma caixa de papelão.

Durante o esfriamento não manipule os vidros e de jeito nenhum empilhe os recipientes. Ao esfriar, o doce vai se retrair e formar um vácuo dentro do vidro que garantirá a total vedação, e o calor durante a embalagem impedirá a entrada e a sobrevivência dos microorganismos que estragam os alimentos.

Dicas: Principiantes na cozinha devem estar acompanhados por pessoas mais experientes,crianças, nem pensar! Os vidros e as tampas podem ser comprados em lojas de embalagens e vidraria para laboratório, ( é possível encontrar bons vidros nas centrais de reciclagem). Após esfriarem, os vidros devem ser guardados em um armário ou caixa protegidos da luz de cabeça para baixo, pois desta forma, se alguma tampa não estiver bem vedada, ela vazará e acusará o defeito. E por último, não adianta ter todo esse cuidado com os vidros e tampas se os utensílios de cozinha não estiverem limpíssimos.


Alexandre de Freitas

Manutenção - Um cuidado a mais na hora de economizar água e energia!

Muita água e energia elétrica é desperdiçada devido a problemas relacionados com a conservação das vias de condução (canos e fios). No caso do encanamento, muita da água tratada sequer chega até nossa casa, ela se perde no solo sob nossos pés. Em nossa casa muitas vezes temos vazamentos que sequer percebemos, mas que passam meses e anos jogando água fora. Mas o problema mais usual está relacionado com as torneiras e registros. A grande maioria das torneiras tem seu sistema de vedação formado por uma pequena peça de borracha em forma de disco. Pois bem, como tudo nesta vida, esta borrachinha não é eterna! Temporariamente ela precisa ser trocada e isto é uma tarefa bem fácil e pode ser feita porqualquer um (informe-se na ferragem mais próxima). Uma dica preciosa para aumentar a vida útil da borracha vedante: - Nunca aperte excessivamente a torneira, isto desgasta a torneira e não economiza uma gota sequer de água. Feche apenas o necessário. Outra maneira bem óbvia de economizar água é planejar a lavagem da louça, roupa e banhos. Detalhe: a água com amaciante e até mesmo com um pouco de sabão de roupas pode servir para lavar o chão, calçadas e outros locais que não necessitam de água totalmente limpa. Aliás, você não acha uma absurdo usar água potável para dar a descarga no vaso sanitário?

Já com relação à energia elétrica, além de seguir todas as recomendações que estão sendo passadas pelos meios de comunicação, que tal checar em que estado se encontra a rede elétrica de sua cas? Fios de cobre velhos ficam mais rijos e com o passar dos anos este enrijecimento faz com que o fio ofereça resistência. O resultado disto não podia ser outro, o aquecimento dos fios e o aumento do perigo de curtos circuitos. Uma boa manutenção da rede elétrica pode economizar até 30% do consumo mensal. Solicite uma revisão a cada dez anos. Em se tratando de eletricidade podemos perceber uma coisa: tudo que esquenta está consumindo energia. Portanto, fios velhos agem como a resistência do aquecedor; só que roubam energia e não beneficiam ninguém. Por falar em aquecimento não esqueça de desligar da tomada todos os aparelhos elétricos, especialmente aqueles que funcionam com controle remoto. Você que é usuário de televisão a cabo poderá constatar o desperdício de energia colocando a mão sobre o aparelho decodificador, você perceberá que ele permanece quente mesmo quando a televisão está desligada. Sendo assim, não saia de casa sem antes desplugar tudo, menos a geladeira, é claro!

26/11/2008

Vamos fazer pão?

O pão é um dos alimentos mais emblemáticos de nossa história. Por estar presente em muitas culturas e ter quase infinitas maneiras de preparo, é uma das receitas mais executadas e presentes mundo afora. O pão representa o alimento da família e o sustento. Em muitas culturas é o símbolo da união e do trabalho. E toda a pessoa que prepara o pão arranca a simpatia daqueles que vão saboreá-lo.

Aprenda agora uma receita simples e muito gostosa de pão semi-integral para ser feita em casa e compartilhada com os amigos.

 

Para dois pães grandes:

6 xícaras de farinha integral;

3 xícaras de farinha branca;

1/2 xícara de aveia em flocos grandes (laminada);

1/2 xícara de trigo em grão bem moído no liquidificador;

 colher de sopa de sal;

1 colher de sobremesa rasa de açúcar;

1 colher de sopa e meia de fermento biológico granulado;

1 colher de sopa de azeite de oliva ou manteiga;

água morna ( o suficiente para dar o ponto na massa +- 2 e 1/2 copos americanos);

4 colheres de sopa de sementes de linhaça ou gergelim;

os condimentos de sua preferência.

 

É realmente fácil:

Primeiro misture bem, dentro de uma bacia, as farinhas, os grãos, o fermento, o sal, o açúcar, as sementes e os condimentos.

Faça uma cova bem no meio do monte de farinha.

Coloque o azeite ou a manteiga.

Vá despejando a água morna ( 38° C ou 40° C para o sul do Brasil no inverno).

Siga misturando até que a massa adquira a consistência elástica, típica da massa de pão.

Detalhe importante: A massa vai se tornado mais elástica a medida que vai sendo amassada. Isto se dá porque o glútem vai se aglutinado e formando fibras proteicas. Outra dica preciosa: Os pães feitos com farinha integral devem receber um pouquinho de água a mais. Pois as fibras de celulose absorvem mais água.

Amasse bem!!!! Não sabe amassar pão? Também é fácil:

1 - faça uma bola coma as duas mãos

2 - Com a mão direita agarre um dos lados da bola de massa e empurre para frente, rente à bancada. Depois de esticar traga esta porção na direção do seu corpo e finalmente pressione contra o bolo de massa. Nunca desprenda partes da massa do bolo. Repita este movimento impondo um certo ritmo. É quase instintivo, em instantes você aprende e a sua massa vai ficar bem elástica, formando uma bola bem lisa.

Deixe descansar por uma ou duas horas, ou então espere que a massa dobre de volume. O melhor lugar para o crescimento da massa do pão é em ambientes quentinhos e abafados. Após o crescimento, amasse novamente (a massa deve estar bem fofa). Para fazer o pão, divida a massa em duas partes e estique cada uma delas coma mão e enrole. Encaixe cada um dos pães em forma médias (dessas usadas para fazer pão de forma). Deixe crescer por mais meia hora e asse em forno médio/quente por 35 a 45 minutos. Se o seu pão ficar com a massa meio mole é porque assou pouco. Se, ao contrário, o miolo ficar ressecado e a casca dura, asse por menos tempo da próxima vez.

 

O seus pães ficarão ainda mais gostosos se ao tirá-los do forno eles forem cobertos com um pano de prato muito limpo e ligeiramente úmido.

Algumas pessoas costumam colocar condimentos na massa do pão. Nós já experimentamos fazê-lo com aipo em pó, noz moscada, sementes de endro, erva doce ou pimenta preta. Juntos ou separados os condimentos dão um sabor original e exclusivo ao seu pão.

21/10/2008

Como e por quê ter um jardim mais produtivo

A prática da jardinagem confunde-se com a história da agricultura. É difícil imaginar que as populações antigas estivessem muito preocupadas com aspectos estéticos em uma época em que a agricultura e conseqüentemente a produção de alimentos eram incertas. Mas se avaliarmos o que as plantas realmente significam para as diferentes culturas vamos nos surpreender com a complexidade desta relação entre a espécie humana e as suas plantas cultivadas. A cientista indiana Vandana Shiva observa:"...Na agricultura indiana as mulheres utilizam 150 espécies de plantas tanto para alimentar-se quanto para a forragem dos animais e assistência médica. Em Bengala Ocidental , 124 ervas silvestres colhidas nos campos de arroz têm uma grande importância para os agricultores...(The Ecologist, vol.28, n5). Sendo assim podemos concluir que a jardinagem é antes de mais nada a prática de colecionar plantas úteis e pode ter múltiplas funções no cotidiano das pessoas.

A cultura consumista que moveu a economia do século XX, transformou a prática da jardinagem em uma atividade descartável e com função meramente estética. Atualmente a jardinagem que deveria ser uma ação de proteção da natureza acaba se tornando mais uma entre as muitas fontes de resíduos sólidos e desperdício de água e energia. A destituição da "utilidade" dos jardins é uma herança dos franceses que criaram grandes e artificiais jardins, destinados apenas para o lazer e o deleite estético. Em contrapartida quando voltamos aos jardins mais tradicionais do velho mundo vamos encontrar o que os ingleses denominam de "cottage garden" (jardim camponês) onde predominam entre as diversas espécies de flores do campo, as ervas aromáticas e medicinais entremeadas com frutas e legumes.

Atualmente a cultura ecologista resgata a real função da jardinagem e devolve às pessoas o prazer de cultivar flores, ervas, legumes e frutas em um mesmo espaço. Um jardim pode ser muito mais que um ambiente destinado a enfeitar nossos lares. Nosso jardim pode ser um local para resgatarmos o ofício mais ancestral de nossa espécie, a produção de alimentos. Veja agora alguns aspectos importantes a serem considerados na hora de convertermos nosso jardim em um espaço mais produtivo. Sem esquecer das flores, é claro!

Elemento e função:

Considera-se elemento de um jardim cada componete do mesmo. Ávores, canteiros, lagos, pérgolas, calçadas, etc...Cada elemento deve ter uma função que justifique a sua presença no jardim. Nem que seja apenas para bonito, mas o elemento não deve estar em um jardim sem um propósito. Preferencialmente um elemento tem que servir de suporte para outro. Desta forma são geradas novas e interessantes interações que tornam nosso jardim mais próximo da realidade natural. Na prática isto quer dizer que uma parreira de uvas pode, além de produzir uvas, servir de sombra para o descanso e até abrigar sementeiras. Ou, mesmo uma cerca, que além de determinar limites, pode ser o suporte para um pé de chuchu, este mesmo chuchuzeiro pode agir como um quebra-vento, ...

Diversidade de elementos:

Uma grande variedade de elementos em um jardim torna o ambiente mais equilibrado, proporciona um número maior de interações, e efetivamente oferece uma gama maior de produtos gerados no mesmo. Outra grande vantagem proporcionada pela diversidade de elementos é a possibilidade de ocupar diferentes ambientes já que estamos lidando com diferentes espécies vegetais e animais. Com este procedimento podemos ocupar áreas muito sombreadas com estruturas que não necessitam de luz solar, como composteiras, depósitos de ferramentas, reservando as áreas com sol pleno para as hortaliças, frutíferas e ervas aromáticas. Em áreas extremamente sombreadas podemos cultivar cogumelos comestíveis (é meio complicado mas, é possível) e em locais tão ensolarados e quentes, insuportáveis para as plantas, podemos instalar secadores de ervas e frutas.

Alelopatia:

A presença de determinadas plantas pode estimular o crescimento de outras através das interações químicas ocorridas entre elas. Por outro lado o contrário pode acontecer, e neste caso a presença de determinadas plantas pode impedir ou atrasar o crescimento de outras. Quando programamos uma horta ou um jardim devemos levar isto em conta e tirar o máximo proveito destas interações químicas ocorridas entre as plantas. Em bons manuais de hortricultura é possível encontrar tabelas de compatibilidade.

Introduzindo pequenos animais:

Integrar pequenos animais nos jardins pode ser uma boa alternativa para diversificar nosso espaço e propiciar novas interações. Dentro da idéia inicial de que cada elemento pode e deve ter uma função, vemos os pequenos animais como preciosas fontes de adubo para as plantas e, em determinados casos pode servir como fonte de proteína. Algumas poucas galinhas podem abastecer uma família com ovos durante uma grande parte do ano. Caso o espaço seja realmente pequeno podemos optar por codornas ou galinhas garnizé, que fazem tudo que uma galinha comum faz porém, em menor tamanho. Em uma gaiola de meio metro quadrado podemos criar três ou quatro codornas com muito conforto. Se esta gaiola estiver posicionada sobre uma composteira, a reciclagem é direta. Em pequenos quintais bem ventilados ainda é possível criar alguns poucos coelhos.

Um pequeno lago no jardim cria condições mais favoráveis para diversos cultivos, melhora o aspecto da paisagem, possibilita o cultivo de determinadas plantas que crescem em ambientes encharcados e, dependendo do tamanho do tanque, é possível criar alguns peixes comestíveis.

Gramados e calçadas:

Os gramados nada mais são do que monótonas monoculturas. Ao invés de servirem como cobertura de eventuais espaços de circulação acabam por ser quase a única vegetação em determinados jardins. As calçadas são ainda piores pois além de causarem um empobrecimento na diversidade ainda provocam um impacto microclimático, além de selarem o solo criando, desta forma, um espaço estéril no jardim. Devemos usar estes elementos com muita economia sempre levando em conta que estes devem ter uma justificativa prática para estarem em nosso jardim.

Árvores e arbustos:

O uso de árvores e arbustos em um jardim não pode ser feito de forma indiscriminada. Mesmo porque, o posicionamento de diferentes espécies de árvores é estratégico para tirar o melhor proveito das variações climáticas sazonais (estações do ano). Procedendo desta forma pequenas árvores e arbustos podem alterar de forma positiva tanto o aspecto visual de nosso jardim como podem exercer uma função termo-reguladora. Um procedimento muito simples e de excelentes resultados é o uso de árvores mais altas e com folhagem perene ao sul do jardim (isto só vale para as regiões sub-tropicais e temperadas do hemisfério sul). O lado norte do jardim reservamos para as árvores de folhas caducas (aquelas que perdem as folhas no inverno), na prática o que acontece é que o jardim fica protegido do sol intenso do verão pelas copas das árvores, mas no inverno quando o jardim precisa de mais sol as árvores caducas perdem as folhas e deixam passar toda a luz solar tão preciosa no frio. Também algumas frutíferas conseguem se adaptar bem a pequenos espaços. Destacamos aquelas de pequeno porte que produzem frutos comestíveis e que atraem pássaros. Sugerimos algumas espécies: laranjinha japonesa, tangerina, limão cravo, cereja, figo, pêssego, ameixa, framboesa, amoras, araçá, pitanga, ... Estas frutíferas cultivadas no jardim podem produzir frutas de primeira qualidade para geléias e compotas, que podem durar o ano todo.

Não varrer folhas secas:

A varrição das folhas secas no jardim não deve ser feita sem uma boa (mas boa mesmo!) justificativa. De uma forma geral as folhas secas são a principal fonte de nutrientes para o solo em um bosque. Muita da fertilidade do solo se perde por não sabermos manejar corretamente as folhas secas. Uma boa camada de folhas secas protege o solo, evita a perda de umidade, é fundamental para o controle da erosão laminar (erosão mais superficial no solo, quase imperceptível e que dá início a processos erosivos mais agudos). Quando decompostas as folhas secas representam uma importante fonte de nutrientes. E na prática, em dia de chuva um solo descoberto vai, inevitavelmente encher nosso calçado de lama, o que não ocorre se caminharmos sobre uma densa camada de folhas. Saiba muito mais sobre este assunto lendo o texto de José A. Lutzenberger entitulado: "Folha Seca não é Lixo" disponível na página da Fundação Gaia na Internet (www.fgaia.org.br).

Não fazer terraplagem:

Um erro muito freqüente é a terraplanagem total do terreno onde queremos instalar nosso jardim. Existe um mito de que isto facilita o trabalho e otimiza o controle geral das plantas. Pois bem, os acidentes naturais do terreno podem nos proporcionar locais mais altos e secos junto a locais mais baixos e úmidos; pode ainda gerar locais mais frios e outros mais quentes. Em meio a esta diversidade microclimática podemos distribuir uma gama muito ampla de espécies em nichos específicos. Quando instalamos nosso jardim em um local plano podemos simular esta diversidade climática construíndo canteiros em formato de espiral, que se erguem do solo oferecendo diversos níveis de umidade e calor.

Podando com sabedoria:

A poda deveria ser uma técnica de assistência à saúde da planta. Porém, o que vemos é que a poda das ávores é, na maioria dos casos, feita com total desconsideração para com a planta, levando em conta somente as conveniências das pessoas e, pasmem, dos veículos e construções. Árvores de jardim não devem ser podadas nunca salvo algumas exceções. No caso das plantas frutíferas a poda é feita para que haja maior entrada de luz dentro da copa das árvores e um conseqüente aumento na produtividade e qualidade dos frutos. Em outros casos as árvores possuem alguma anormalidade e para isto fazemos o que pode ser chamado de dendrocirurgia. A dendrocirurgia nada mais é do que uma poda feita seguindo os critérios de proteção à saúde da planta. Esta prática serve tanto para a retirada de galhos e ramos como para a correção de partes lascadas do tronco e dos galhos.

Coletar água da chuva:

Uma atitude muito civilizada é economizar água. Para isto podemos dispor de uma série de procedimentos. Um deles é coletar água da chuva. É possível guardar grandes quantidades de água para a manutenção do jardim simplesmente instalando calhas nos telhados ou dispondo de outros truques para coletar e armazenar a água da chuva em tonéis com tampa, para evitar os mosquitos.


Alexandre de Freitas

Composteira de apartamento


Como compostar o lixo orgânico, mesmo em pequenos apartamentos

A compostagem é uma técnica milenar, praticada pelos chineses há mais de cinco mil anos. Nada muito diferente do que natureza faz há bilhões de anos desde que surgiram os primeiros microorganismos decompositores. Seguindo o exemplo da floresta, onde observamos que cada resíduo, seja ele de origem animal ou vegetal, é reaproveitado pelo ecossistema como fonte de nutrientes para as plantas que, em última análise, são o sustentáculo da vida terrestre. Pois bem, quando procedemos com a compostagem estamos seguindo as regras da natureza e destinando corretamente nossos resíduos.

Tradicionalmente a compostagem é vista como uma prática usual em propriedades rurais e centrais de reciclagem de resíduos. No primeiro caso é uma estratégia do agricultor para transformar os resíduos agrícolas em adubos essenciais para a prática da agricultura orgânica. No segundo é uma necessidade administrativa, que tem a intenção de diminuir o volume do material a ser gerenciado além de estabilizar um material poluente.
No espaço urbano existe a crença de que lixo deve ser recolhido pela prefeitura e despejado em algum local onde possa feder e sujar a vontade. Esta realidade perversa está sendo mudada, graças às ações práticas de alguns municípios e pelos avanços nas leis e normas ambientais em nosso país. Mas o que nós cidadãos podemos fazer em nossas casas para colaborar neste processo?
Uma coisa muito boa que podemos fazer em nossas casas e apartamentos é a compostagem. Diferentemente dos agricultores que precisam de adubos para os seus cultivos ou das prefeituras que precisam se livrar desse resíduos; nós em casa podemos começar simplesmente tentando diminuir a quantidade de lixo orgânico emitido para a prefeitura. É claro que só é possível isto em casas onde o lixo é separado.

Entre os muitos modelos de composteira existentes, destacamos os engradados de pvc (lembra das caixas plásticas usadas em supermercados para o transporte das compras?). Com dois ou três engradados podemos montar uma sistema de compostagem bem eficiente e que não ocupa muito espaço. Vamos ver isto passo-a-passo:

Como montar a composteira em espaços mínimos (sacadas e áreas de serviço)

1.    Forre por dentro um engradado de pvc (destes que usamos para carregar as compras no supermercado) com uma camada espessa de jornal bem úmido, mais ou menos 6 ou 8 folhas. Depois de acomodar estas folhas de jornal faça furos no fundo.

2.    Preencha o fundo deste engradado com composto já pronto e com minhocas. Faça uma camada de mais ou menos 10 cm de espessura. Nos supermercados e em floriculturas encontramos um produto genericamente chamado de húmus de minhoca. Um bom húmus sempre tem alguns ovos e filhotes de minhoca que sobrevivem ao peneiramento e à embalagem.

3.    Escolha no seu lixo orgânico algumas porções de cascas de frutas ou folhas de verduras, não muito.

4.    Enterre este material no composto. Isto vai servir para avaliar a quantidade de minhocas que existe neste material, já que elas serão atraídas pela comida (lixo orgânico).

5.    Cubra tudo com mais uma camada de jornal úmido. O jornal tem que estar sempre úmido, caso contrario roubará água do material que esta sendo compostado e este não ficará pronto em poucas semanas.

6.    Providencie uma tampa para o seu composto. Isto evitará a proliferação de moscas e baratas além de servir de barreira para um eventual rato.

7.    Agora uma parte bem importante! Observe por alguns dias quanto tempo as pequenas minhocas levam para comer uma determinada quantidade de lixo orgânico. Esta é a capacidade de reciclagem da sua composteira. À medida que as minhocas vão crescendo e se reproduzindo o consumo de resíduo orgânico vai aumentando. Uma minhoca vermelha do composto (Eisenia foetida) pode comer o próprio peso em um único dia, além disso com apenas três meses elas já estão se reproduzindo, podendo depositar um casulo a cada semana. Cada casulo desses pode gerar de quatro a doze pequenas minhocas que já nascem prontas para comer muito pelo resto da vida. Uma composteira doméstica pode ser considerada eficiente quando os resíduos orgânicos somem totalmente em menos de duas semanas. Outra técnica muito usada por jardineiros experientes para avaliar um composto é a quantidade de ruídos que este pode produzir. Difícil de acreditar? Então experimente, quando seu composto estiver produzindo um pequeno ruído que lembra um líquido escorrendo é sinal de que as minhocas estão trabalhando a todo vapor. Daí para a frente é um processo contínuo e crescente. 
O que fazer quando a composteira está cheia

8.    O que acontece com as composteiras domésticas é que elas sempre têm uma quantidade de material pronto, uma parcela de material em processo de decomposição e uma porção diária de lixo orgânico ainda fresco. Isto dificulta bastante a coleta do material que já está pronto para o uso. Para este problema temos uma solução. Veja a seguir:

9.    Um engradado composteira vai sendo lentamente preenchido e as minhocas vão comendo e reciclando material de baixo para cima. Bem, um dia nosso engradado estará completamente cheio, com material já reciclado no fundo e lixo fresco junto à superfície. Isto é inevitável, mas uma maneira de contornar este problema é simplesmente forrar as laterais de um novo engradado e empilhar sobre o primeiro. Assim, dê continuidade ao processo colocando uma porção do composto cheio de minhocas no fundo do segundo engradado e siga o processo normalmente. Desta forma as minhocas continuarão trabalhando no sentido vertical e em algumas semanas a sua primeira caixa estará completamente reciclada e você terá mais ou menos 25 Kg de adubo orgânico de primeiríssima qualidade. 
 
Onde colocar a composteira

10.
    A composteira de engradados de pvc não deve ser colocada em locais sem ventilação. Não devemos desperdiçar locais ensolarados com a comnpostagem que dispensa a luz solar; as plantas sim precisam dela. Os engradados de compostagem devem ser colocados sobre um suporte que pode ser desde de um simples e pouco eficiente jornal, até bandejas ou caixas que possam coletar e canalizar o chorume (líquido que escorre do composto) completamente. Um bom composto deve produzir muito pouco ou nenhum chorume. Mas quando regamos o composto no verão isto é inevitável. Por garantia podemos acomodar nossos engradados sobre uma bandeja plástica, de metal ou de madeira, de pelo menos 5 centímetros cheia de brita, cascalho ou areia bem grossa. O importante é que o composto tenha o mínimo contato com o chorume.

11.    Sofisticando um pouco mais podemos construir um suporte de concreto ou tijolos e cimento que tenha pelo menos 40 centímetros de altura e onde possamos encaixar os engradados. Devemos cuidar para tenha um dreno (furo) no fundo e então podemos preencher metade da altura com carvão vegetal (aquele que compramos para fazer churrasco) e logo por cima despejamos a mesma quantidade de brita, e por cima da brita acomodamos os engradados. Desta forma o eventual chorume escorre pela brita até a camada de carvão onde é desodorizado e ligeiramente filtrado. Evitando sujeira na sacada ou na área de serviço. Para composteiras feitas diretamente na terra este problema praticamente não existe já que o solo absorve o chorume. 
O que pode ser compostado e como usar o composto gerado

12.    Praticamente qualquer coisa orgânica é passível de compostagem. Preferencialmente devemos usar os resíduos orgânicos vegetais crus gerados em nossa cozinha, os restos de comida podem e devem ser compostados, porém devemos lembrar que o sal pode diminuir a qualidade de nosso composto tornando-o mais salino do que o conveniente. Pensando ecologicamente o certo é não termos restos de comida, um pouco de organização pode evitar desperdícios e viabilizar a prática da compostagem domiciliar de forma totalmente eficiente. Mas quando não conseguimos comer tudo o que preparamos o destino mais adequado para os restos de comida é a composteira. Ossos podem ser compostados, principalmente os cozidos. Já a carne crua não é o melhor material pois pode cheirar mal dentro da composteira. O jornal e outros papeis velhos podem ser usados sem problemas, mas devemos lembrar que o jornal limpo se presta muito mais para a reciclagem (fabricação de um novo papel) do que para a compostagem. Então devemos usá-lo com sabedoria.

13. 
   A compostagem de resíduos sanitários (papel higiênico, fraldas, absorventes,...) fica reservada para experts em compostagem, quem sabe um dia!

14.    Após o composto estar pronto você pode usá-lo em suas flores, folhagens, hortaliças e temperos. Aplique de acordo com a necessidade de cada espécie de planta. Samambaias em geral e folhagens tropicais gostam de doses bem fartas de composto, algo em torno de um quarto do volume do vaso ou da floreira. Devemos repor um pouco de composto na superfície a cada estação, e depois de um ou dois anos é melhor refazer tudo (esta recomendação não vale para todas as plantas). Em gramados podemos usar até cinco quilos por metro quadrado no final do inverno e nas violetas no início de cada estação devemos aplicar na superfície da terra uma colher de sopa bem cheia de composto, misturada com uma colher de cafezinho, de farinha de osso (faça a sua com cascas de ovo ou compre uma de boa qualidade). Vale lembrar que plantas aromáticas gostam de solos bem drenados e com pouco composto (use a farinha de osso nestas plantas também).

15.    Um engradado de pvc é capaz de compostar o resíduo orgânico gerado por até três pessoas. Para uma família maior é só aumentar o número de caixas. É preferível fazer duas pilhas de engradados do que empilhar muitos. Se a família dispõe de um pátio com terra poderá optar por um modelo mais convencional de composteira feita de tijolos ou madeira. Tijolos bem empilhados podem gerar uma ótima composteira mas por segurança podemos uní-los com cimento ou barro bem amassado. Composteiras de quintal devem ser feitas uma ao lado da outra formando compartimentos que vão sendo preenchidos com resíduos orgânicos um de cada vez. Assim, as minhocas vão reciclando o material a cada compartimento preenchido, seguindo o mesmo procedimento anterior.

Ensine para as crianças e também para seus amigos que a compostagem domiciliar é uma continuidade da separação do lixo, e coopera com a coleta seletiva para a diminuição dos aterros sanitários e lixões. No composto as crianças poderão aprender muitas coisas sobre a natureza com os muitos tipos de pequenos animais e fungos que surgirão junto com as minhocas. Os ácaros, tatuzinhos, besouros, pequenas aranhas e tantos outros animais do composto são essenciais para este processo, eles formam um pequeno ecossistema que vai se equilibrando com o tempo. Até as formigas ajudam quando não estão em excesso. Como podemos ver a compostagem é uma prática interessante, viável na maioria dos espaços, e (por que não dizer?) um ato de cidadania, especialmente quando fazemos isto pensando em todo o nosso lixo orgânico que ao invés de feder e poluir vai gerar mais verde e mais vida. Não é incrível termos um pequeno ecossistema dentro de casa? Boa sorte!
 

Alexandre de Freitas